A relação que se pode estabelecer entre a cultura grega e o western americano não é uma novidade hermenêutica. Na verdade, já vários autores (e.g. P. L. Cano) chamaram a atenção para a proximidade da estrutura de filmes como High Noon, de Fred Zinnemann (1952), por exemplo, e a tragédia ática, ou The Searchers, de John Ford (1956), e a epopeia homérica. Em alguns casos, ainda que por entreposto meio (teatro de E. O’Neill), verifica-se mesmo uma reutilização do próprio texto trágico e sua adaptação à realidade norte americana, como acontece em Mourning becomes Electra de Dudley Nichols (1947) e Desire under the Elms de Delbert Mann (1958). Assim, a nossa conferência tem como objectivo explorar a relação que se pode estabelecer entre a tragédia grega, em especial, e o western, género cinematográfico essencialmente associado à problemática fundacional dos EUA e da cultura norte americana, e que funciona, por conseguinte, como uma «mitologia para os EUA». Com efeito, se a tragédia grega dá vida e vive da mitologia dos Gregos, ela parece ter servido também para ajudar à criação de uma «mitologia norte americana». A nossa análise centrar-se-á sobretudo em duas produções: The Magnificent Seven de John Sturges (1960), que, apesar se basear numa realização anterior de Akira Kurosawa (Shichinin no samurai, 1954), é relocalizada por Sturges no ambiente do oeste americano, mas assentando numa ideia de base que remonta a Ésquilo e a Sete contra Tebas; e Space Cowboys de Clint Eastwood (2000), que, ainda que encenado no mundo da ficção científica e dos filmes espaciais, evoca os épicos western tão ligados ao seu realizador e radica na tragédia Filoctetes de Sófocles.